segunda-feira, 29 de abril de 2013

K

pôr do sol

Lembro-me que um crepúsculo,

que uma ausência de luz,


é, também, um caminho, num castelhano tosco: "más grande, más sencillo", sim, mais simples, em que, em fundo, se encontrará o escuro, oriundo da luz. Não faz mal: quantos caminhantes, no ensejo maior da caminhada, viram nuvens escuras presas em farripas esparsas de uma luz vencida? Abro os olhos, vejo, temo o temor, apenas. De resto, enfuno-me, e deixo que mesmo "más grande" o caminho não me abandonará, não me descalçarei sucumbindo às dores do desnorte, ao pesar da palavra oca.

Mesmo na minha migração,
na minha saída,
o que me prender
será apenas o coração
(esse, demasiado grande
para que o possa levar).
Não receio caminhar pelo escuro,
pela ausência.
Não temo o lugar,
talvez por ser
oriundo da luz.
Cá,
houve pescadores sem peixe,
operários sem féria;
cá,
a fome sentou-se às mesas,
trazendo consigo o manto negro,
a clara falange espetada
para os pratos enormes…
Serei, pois, 
fiel a um caminho
que me leve longe.
Irei com ânsia
e sem espera.
Serei, pois, 
fiel ao caminho e,
num gesto quase agnóstico,
espraiarei meus olhos,
fitarei cego os marcos,
as veredas;
os dragões ser-me-ão favoráveis,
e não me descalçarei
por mor do desnorte.
Transportarei no meu bolso o
Guia da
Profunda
Saudade
e assentarei
o meu nariz
no Sol do meio-dia.
"Más grande, más sencillo",
será também o meu apego
à terra,
a toda a terra,
enquanto funâmbulos perdidos
pedirem pelos cantos,
sorrindo um sorriso desgrenhado,
mas sincero, assim.
Sobre todas as coisas
guardarei o rigor do conhecimento,
a certeza
e a fidelidade de um coração
deixado longe.
Agora, depois de tanto falar,
parto, então;
olho o que foi o meu país,
sinto o remorso do abandono,
a que ele me votou,
porquê?
Nem sei.
Uma vaga de frio,
de modesto,
mas firme horror,
percorre-me a espinha,
sei que voltarei tarde,
sei que a minha terra
vai ficando só.
Trilho os caminhos
que milhares e milhares
de outros já trilharam,
 mirando uma nação
que os não soube agarrar.
O português embarca,
como sempre,
no ciclo infindável
das Descobertas,
agora já não dilatando
a Fé ou o Império,
já não buscando a glória
ou a aventura…

(expansão do meu poema "Céu"de 30/10/12)

("Sê sincero para com os outros,
não detenhas a tua mão no labor da justiça,
assim na tua velhice terás o respeito
dos teus concidadãos."
Fala de Péricles a Tucídides, seu eterno discípulo) 
(Imagem do autor
obtida com telemóvel:
"S. Pedro de Moel)

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sábado, 27 de abril de 2013

K

é quando as gotas,
frias, redondas
escorrem
suaves
pelo teu ventre,
perlado,
que os meus olhos,
perdidos,
se reencontram
no reflexo dos teus,
espíritos 
de água 
indolente,
dulcíssima,
cristal fugaz...
("Não fujas da doçura ou da beleza.
Sê justo nos teus caminhos,
acarinha o teu tempo. 
E nunca te arrependas das pegadas
que deixaste."

Fala de Platão a Petraeus, 

seu discípulo hoje esquecido)
(fonte da imagem:

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quinta-feira, 25 de abril de 2013

K

linha-espaço

Embalou o fado,
no seio do seu
quase-grito,
desde a criação
à modernidade;
nos silêncios
consumiu a voz
entre trejeitos
e stacattos;
refreava-se,
numa quietude
exigente,
intuída;
torcia os dedos,
o xaile,
a viola,
e a palavra soltava-se,
em pulsos delirantes,
trepando lesta,
e as linhas da pauta
não chegavam para a conter!...
(fontes das imagens:


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sexta-feira, 19 de abril de 2013

K

partir...

Faz tempo, há que partir...
Saudades...
o cheiro a livro velho,
o chá quente
em vagas de conforto,
volutas agridoces...
Sentado na bancada
encosto a cara
à vidraça turva,
as gotas de água em modesto
deslizar;                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   o vento cantarolando,
as folhas dançam,
em doce sintonia
com as folhas de chá...
Ah! Mas a partida aguarda...

E o vento lá fora
na vã indecisão
dos sábios...
("Na tua partida não apresses a chegada,
saboreia a viagem e não detenhas a curiosidade:
em todos os teus caminhos
encontrarás sabedoria."
Fala de Plutarco a Hepatia,
sua discípula)
(fonte da imagem: www.lunapic.com 

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quarta-feira, 10 de abril de 2013

K

se...


Se as minhas costas carregarem
os trigos que te alimentaram,
as águas frescas que te dessedentaram,
os carinhos que te adormeceram,
então saberei que já nada valem
as minhas mãos abertas,
o meu sorriso,
a minha dádiva;
tudo se espiralou
na tua inocência,
no teu ar sagrado,
no aroma oculto 
da tua santidade.


(fonte da imagem:
http://wizards.com)

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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