domingo, 29 de dezembro de 2013

K

2013 AD

Soldadinho,
por quem lutas?
Soldadinho,
por que lutas?

Soldadinho,
sabes?
Enquanto choras
o caminho,
enquanto trovejam
os clarões,
enquanto as botas
te matam mais 
do que os outros?

Enquanto guerreias,
há quem espera
que sejas "máquina",
e se debruce 
sobre
o seu copo de uísque?
Enquanto guerreias,
há quem
percorra um mapa
e preveja a tua hora
com a segurança
de um horário de avião?

Sabias, soldadinho?
Sabias
que esperam
que não penses,
que ajas e pronto?
Estás pronto, soldadinho?

Mergulha 
no segredo,
ataca o medo,
e vasculha,
vasculha o sentido
da teia que te atulha
pela qual te tens batido...

(fonte das imagens: n/a)

Etiquetas: ,

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

K

geografia


Já esqueci a geografia.
Obliterei caminhos,
rosáceas,
batentes de sombras.
Embrenhei-me,
desenvolto,
nas poeiras fumegantes,
nos incensos já mortiços,
nos passos rasos 
dos tempos
de reis-faraós,
césares depois,
imperadores,
mais tarde czares,
distantes, sempre;
talvez amados,
sim,
em algumas geografias,
mas vagos,
mapas em branco,
tão reticentes...

(Primeiramente publicado em:
http://gps-poetasdomundo.blogspot.pt/)

(fonte da imagem:
http://shekinah-shalom.blogspot.pt/2011_02_01_archive.html)

Etiquetas: , ,

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

K

xeque

Joguei dominó com o teu sorriso,
passei pela casa Partida
e nada recebi.
Hoje relembro
que a tua dama
me fez xeque-mate...

domingo, 22 de dezembro de 2013

K

21/12

No mais escuro da noite,
serpenteando por entre arbustos,
ou pelas vielas mais estreitas,
goza os dias curtos,
envoltos num negrume
tresandando a susto.
Encosto-me ao vidro:
só a claridade opaca,
oblíqua,
me ilumina os dias;
um frio grotesco
embrulha-me os ossos
(e o ânimo),
ainda são 4 e meia
e já cabeceio,
(magro dia este).

Há, 
no entanto,
neste vago desaconchego,
um sensível,
iminente calor,
que me desperta,
lento,  
preguiçoso,
para um mais do que 
doméstico torpor...


("Não deixes que o teu humor
se camufle com o variar dos dias.
Aprende a felicidade também nas chuvas,
quer elas venham do basto Nilo
quer sejam trazidas pelos ventos do
Norte."
(fala de Eratóstenes de Alexandria 
a seu filho Ággelos)
(fontes das imagens:
1ª:  http://www.the-tls.co.uk/tls/public/article1276546.ece
2ª:  http://crazy-frankenstein.com/free-wallpapers-files/seasonal-wallpapers/winter-holidays-wallpapers/country-winter-holidays-wallpapers-1024x768.jpg)

Etiquetas: , , ,

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

K

sopros

Uma flor no crepúsculo,
o aroma do sol pôr, as vinhas prenhas,
ao longe,
a estrada deserta
é cortada pela poeira,
nuvens esquecendo o porquê;
quantas vezes este quadro?
talvez com outra paisagem,
já extinta,
outras envolvências 
esquecidas...
há,
no entanto,
um mistério,
uma gota de paz,
serenidade talvez;

os caminhos dolentes,
as vagas trajectórias
erigidas
sob ventos 
puídos
pelos enigmas
que nos envolvem
no abraço 
da estrada deserta

da sua poeira
quase metafísica...
(21/11/13, 15H27)
("Quando te deitares ao caminho,
faz dos teus olhos 
amigos da estrada;
quem sabe se não verás
tempos já esquecidos..."
fala de Plutarco a Aristeu,
seu discípulo grego)

(foto do autor
obtida com telemóvel)


Etiquetas: , ,

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

K

silêncio



É no silêncio da noite,
no ancoradouro dos mistérios,
que os salpicos do tempo
se depositam nas tuas mãos;
ocultos,
os tempos que te passeiam
vão desaguar na fronte 
de uma estátua, 
restos de uma identidade 
esquecida, já;
os teus passos acetinam
o chão que te envolve,
as paredes guiam a tua sombra
em nesgas de lápis-lazuli,
a luz apresenta-se 
como personagem
de uma peça por ti encenada;
chegaram os tempos 
das trevas, 
dos muros escorrendo
saliências,
das vozes de guerra,
troando,
da alegria emigrante
refugiada algures 
no vento norte...
Sobra o tempo,
e, com ele,
faz-se
e desfaz-se...

(fontes das imagens:
n/a)

Etiquetas: ,

terça-feira, 26 de novembro de 2013

K

Flor


Hoje,
vi a flor 
reverdecer,
o verde a alastrar
pelos campos acima,
parecia que o vento norte,
a chuva salgada,
tinham tomado um atalho,
um caminho,
que nos deixava a flor,
o regaço oculto
das ervas,
dos arbustos,
que pariam
mais e mais flores.
E os pólenes bailavam,
nas braçadas  
de tojo em estio,
entre os galhos
no meio dos pastos
semeados pelo vento.

("Guarda-te dos mares,
das ondas e da espuma.
Caminha pelo leito seco
das águas e sorri ao vento,
teu companheiro de viagem."
Fala de Orestes a Plauto,

dramaturgo e poeta

Etiquetas: ,

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

K

pinho

verde,
verde
verde 
que te quero verde;
um trilho,
marcado pelas rodas,
directo ao longe,
às asas das nuvens;
caminhas à rés
dos campos,
das flores,
dos pinhais,
o Sol brincando
entre os ramos,
os teus passos marcando
a espera;
há galhos que pisas
e guardam na memória
os tempos de Natal:
a fogueira, 
a Árvore,
os restos da mesa;


o verde,
o verde,
a flor do verde pinho...
(fonte da imagem:
http://maratonabttmangualde.blogspot.pt/2013/08/imagens-do-percurso.html)

Etiquetas: ,

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

K

flores em jeito de fim

sim,
esta é a hora
da nossa terra,
dos caminhos
(da noite)
das campas
alvas, delicadas,
servindo de poiso
aos gaios;
lembras-te
quando deslizavas 
as tuas mãos 
no frugal assalto
aos goivos
e aos lírios?


é na brancura
e no escuro da noite
que adormece o Sol,
em gestos suaves
de agonia,

num empréstimo
de flores 
[já extintas]

("Quando caminhares,
anda na bruma da verdade,
da paz; talvez encontres
a fruição no pó do caminho..."
Fala de Plauto a Tucídides,
seu discípulo nas horas silenciosas)

(fonte da imagem:
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Saint_Remy_les_Chevreuse_Cemetery_Fake_Ceramic_Flowers_02.jpg)

Etiquetas: ,

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

K

Rol

Agora, já não há mais tempo
de encostar a cabeça,
de dizer ao vento: "Espera!",
já não é o tempo de tentar
e de procurar.
O aço,
o fulgor mate,
rodeiam-nos 
cerrando-se.
Nem nos arbustos,
nas ervas,
há o cuidado 
no amparo,
suspendem-se as bagas,
os espinhos para um dia.

A máquina prossegue,
rangendo na inclemência,
um brilho metálico brutal
que cega as mentes.
Já não há mãos dadas,
cânticos ou bandeiras,
agora é o tempo do chumbo,
do esquecimento,
das listas elaboradas,
mortas
nas manhãs sucessivas...

("Não deixeis que a Polis vos esmague.
Sede os Cidadãos que deveis ser,
estai à altura do que vos acontece.
De resto, a Democracia fluirá,
vitória do povo."
Fala de Péricles a Atenas)
(fonte da imagem:

Etiquetas: ,

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

K

Hoje

Hoje,
proclamo o armistício,
o fim do pesadelo
e das mãos crispadas.
É o tempo das cerejas,
dos louros
e dos ramos de oliva.
É o tempo do sol,
dos risos luminosos
e dos abraços.
É agora
que descemos os penhascos
e molhamos os pés na areia;
sim, molhamo-los na areia,
abraçamos o vento
e cantamos na madrugada.

Hoje,
proclamamos 
o regresso!

(fonte da imagem:
http://balconyofdreams.blogspot.pt/2009/08/top-3-beautiful-fruit-trees-for-edible.html)

Etiquetas:

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

K

Dissertação

Bom amigo,
Saber que estás bem
É o que mais me conforta, sabes?
O resto… (tanto afinal) fica por dizer, na esteira do tempo, dos destinos humildes.
Calar é também lançar os sentidos, as memórias, afagar verdades (e mentiras…).
Até lavar os cestos é vindima, diz o povo,
Ser, no tempo, o além-gente, o retorno a nós: digo eu na incerteza dos trilhos inacabados.
Tempo é um bem que se esgota ligeiro,
De camadas feito, esgueirando-se de viés.
Falar é esquecer, partir, fundir-se no tecido do início…
(publicado em
77 palavras, com obrigação
de respeitar o provérbio)
(fonte da imagem:
http://appacdm-lisboa.pt/author/appacdm/)

Etiquetas: ,

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

K

Paisagem com crise em fundo

Ao estender os olhos,
alonguei-me,
na esperança
do dia novo
que me prometiam
havia tanto tempo...
Mas era nas fissuras,
escorrendo-se,
espreitando,
que a garganta 
intumescia,
se exarcebava
no espectáculo do poder,
desculpando o desastre.
Fui sentindo um chão 
deslizante,
que me arrastava
(talvez para o menos infinito),
os meus pés resvalando
num caminho cego,
números pulsantes,
num vórtice insano...
Era a preto e branco
a paisagem que me envolvia,
um fumo enxaguante,
arrastando todos,
restos de comentários
políticos
esvoaçavam sem tino.
Era esse siso
que se perdera 
em artes de guerra
e confronto...
Foram sobrando as pessoas,
os cidadãos, os metecos,
essas a quem os tempos
não haviam perdoado,
e que os carregavam,
como fardos inevitáveis,
assim o poder lhes havia
[afiançado...]

"Ignora os tempos de fartura,
sê prudente no que possuíres,
partilha com o teu vizinho
para que não te falte,
e não confies no Senado, no Imperador."
(Fala de Nemestrino, patrício ilustre
 a Penélope, sua filha)

(fonte da imagem:



Etiquetas: , ,

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

K

Fuga atarantada

Era mar,
era sossego,
na vista azul,
entre dois tons,
espreguiçavam-se as nuvens.
Tudo parecia certo,
até o vento soprava
em jeito de samba
sem notas.
Era, pois,
uma calma reluzente,
em que só as ondas
suspiravam.
Ao meio-dia,
entre bramidos estonteantes,
ergueu-se um monstro marinho,
escorrendo sal e pânico.
Nas fugas atarantadas,
ninguém viu um homem enfadado
de coleira na mão:
afinal o mostrengo não era de Pessoa,
era galhofeira múmia do Museu ali ao lado!
(publicado em 77 palavras)
(fonte da imagem:
Desafio nº 49 – história louca de férias!

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

K

Retrato

A gosto
sorriu,
a boca semiaberta,
uns dentes quase sedutores,
faiscantes.
O amor, para ela,
fora sempre um caminho recto,
tombado,
orlado de flores, comodidades…
alguma solidão, certamente,
mas nem um desgosto.
Não era bonita:
o sol de Agosto reflectia,
em jeito de troça,
um brilho incerto,
nos seus cabelos;
os olhos,
beges,
nada contrastavam
com a sua tez.
E o riso? Gargalhadas trémulas,
em jeito de guincho simiesco.
A contragosto visitava-a:
Era muito azarada ao póquer!

(publicado em 77 palavras
Desafio nº 50 – Com as palavras AGOSTOA GOSTOA CONTRAGOSTODESGOSTO)
(fonte da imagem:

Etiquetas:

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

K

A recomeçar

[IMG]
Fogo,                           
pena,                   
sorriso:
três objectos-sentimento
que a assaltavam
hora a hora,
minuto a minuto,
tiquetateando,
forçando-a ao sorriso,
à pena,
depositando-a no fogo.
E tudo a recomeçar,
mecanicamente,
melhor, digitalmente,
com a certeza
de um programa pavoroso
criado pelo absurdo.
Já não eram só as mãos,
que tremiam,
ou os joelhos que chocalhavam
num tango bizarro;
toda ela era um estorvo
para si mesma.
Aquele ciclo:
fogo,
pena,
sorriso,
era a mortalha,
o regresso
a caminhos extintos...
Desafio nº 1 – palavras impostas: pena, sorriso, fogo
(fonte da imagem:

Etiquetas: ,

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

K

vontade

Era uma vontade asceta,
uma Lua teimosa,
desfragmentada,
que vigorava
no tempo em que
o caminho era a esperança.
Falaram em luzes,
em túneis,
em números
(algarismos tingidos).
Apenas se soube esperar,
enquanto o líquido denso
escorria pelas frontes abaixo.
Pressentia-se
o para lá,
o mais além,
mas não se ousava dizê-lo,
no terror do descarrilar.
A paisagem horizontal,
pastosa,
era também fusão
imaculada e granítica,
numa certeza apenas:
que os números fossem
redutores e mágicos!

("Os números dão-te,
mas tiram-te:
faz com que te sirvam
com prudência."
Fala de Cleantes de Assos,
pensador estóico,
a Creso, rei servo
de ouro e outros 
números)

(fonte da imagem:
http://thehardmanshousent.blogspot.pt/2012/06/switzerland.html)

Etiquetas:

"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

eXTReMe Tracker
online