domingo, 18 de dezembro de 2011

K

entre

Fundo-me
no escuro,
no urgente 
suor cálido.
E nessa fusão,
cristaliza,
decompõe-se,
o resto das palavras
que me afogam
numa - quase - interfase
corpo-corpo, espelho-espelho,
em nula intersecção...

(fonte da imagem:

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sábado, 10 de dezembro de 2011

K

norte

Roo o sonho,
na medida certa,
onde me dói.
Escuto, ouço,
letras que se despenham,
calotas doidas num convés.
Houve dois, três saltos 
que me soltaram
no meio das searas,
vazias de pão,
tão louras
que me levaram a um Norte
que me é vedado, ainda. 
Uma noite, entre sonhos,
abrir-se-ão portas:
Estocolmo/Oslo/Copenhaga/Helsínquia
e o Norte abater-se-á,
noite solar,
longe, longe...
E as capitais esguias, furtivas,
levarão os meus passos,
os meus sonhos incertos
onde já nada dói,
onde já nada conta...


(imagem retirada de:
http://louletania.blogs.sapo.pt)

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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

K

tempo de

Agora é o tempo
do chumbo na fronte,
do resvalo intuitivo,
do esvoaçar das misérias.
Hoje,
a vida entrelaça-se
nas guelras de um peixe,
luzidio e anónimo.
Hoje, celebro 6 anos
e volto à escola,
mesmo sabendo
que as misérias
sopram ao meu redor.
Hoje,
guardo os papéis
que me deu uma jovem
à entrada do metro,
talvez restos
de sábias ordens puídas, sei lá.


Agora é o tempo
do alisar da manhã,
da relva gulosa pela chuva,
das 7 partidas do mundo.

 (foto do autor, obtida com telemóvel:
exposição no Pavilhão do Conhecimento
Ciência Viva, Lisboa)

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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

K

rude

Vejo que esqueceste o tempo,
a rude espada que te tolheu,
o abraço que nunca deste.
Vejo que esqueceste as nuvens,
as esperanças furtivas,
que te trouxeram de bandeja.
Vejo que esqueceste as mãos,
aquelas que o sopro aqueceu,
entre tormentos excessivos.


Sim, vejo o esquecimento,
as luas esquivas,
a guarda que baixaste,
o teu sorriso demente;
há pregas e rugas na tua fala,
e até as palavras esbarram
no teu esgar longínquo;
sinto o tremor do que pensas,
o frio que te agita,
os sonhos em que recusas
empinar-te.
Os apuros dos teus caminhos,
as razias de uma memória
que obliteras a cada passo,
trazem-te de volta à praia:
Omaha Beach...


talvez:
Checkpoint Charlie...

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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

K

torre

Habito esta torre,
entre vendavais de estigma,
nas naves que a sustentam;
assomo-me às janelas,
vejo o regresso de mim,
a camisa drapejando,
o peito rubro de ocasos;
meus olhos percorrem
os vidros,
os nós,
onde se estilhaçam os verdugos,
enquanto, redondos,
meus pensamentos esquecem o hoje;
é pela escada que que meus sonhos descem,
mergulhando nas ervas, 
nos cheiros-orvalho da madrugada.

Habito esta torre,
meus braços abarcam-na,
num abraço feliz,
recebendo-a assim mesmo,
em gentil, cálida adopção...

(foro do autor obtida
com telemóvel:
Montemor-o-Velho,
Verão de há uns anos atrás)

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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

K

resvalo

Quero tropeçar num sonho,
em vigia maruja,
saltar o poleiro,
filar a liberdade,
qual falcão insano,
bêbado de vertigem;
e voltar ao início,
no desejo do regresso
ao tropeço e ao voo...

(foto do autor,
obtida com telemóvel:
S. Pedro de Moel, 2010)

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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

K

em azul

É turva esta imagem de sonho,
feita de lampejos e claridade.
Um pincel coloriu a luz,
os barcos nasceram
como extensão do riso do pintor
e desceram a praia como arcos,
hesitando entre a água e o céu,
 num vacilar sábio,
quase religioso.
Aquele azul rio acima
mistura-se na aguarela,
no mosto das tintas;
na imobilidade que agarrou;
num instante perfeito,
fica uma réstia de abandono,
uma saudade oscilante,
um adormecimento numa tarde de Verão,
voltando em ciclos,
sempre em ciclos circulares...

(foto do autor obtida com telemóvel,
fim de tarde em S. Martinho do Porto,
Agosto 2011)

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sábado, 22 de outubro de 2011

K

luz

Quando uma sombra divina
te resguardar da luz do ocaso,
lembra-te dos riscos da fortuna,
daquilo que te foi destino,
e sorri entre os cedros,
sabendo que foste resguardado
das manchas policromáticas
da morte.

Então, 
talvez a luz da aurora te desperte
e te leve colina arriba
até ao despontar do teu dia,
e de tudo o que te é devido.


(fonte da imagem:
http://photographershalloffame.blog.com/2011/03/10/matt-peterson)

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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

K

final

Ao longe,
entre os cedros,
figuras recurvas
comentavam, graves, 
o fim da poesia.
E o Sol desiçava-se, lento,
de um céu provocante,
malicioso,
o coro das cigarras cingia
o calor e a poeira doirada,
ao longe, cantarolava um regato
entre o piar de duas perdizes,
palpitavam os vermelhos,
os oiros,
em risos de descoberta...
e ainda falam,
em tom circunspecto,
do fim da poesia?

(fonte da imagem:
http://www.lilithgallery.com/,
van Gogh: "Campo de milho
com ciprestes")

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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

K

Notícia


Bom dia.
Quero publicar um recado.
Aponte, por favor:
"O meu coração acaba de vagar,
sem condições ou contrapartidas.
Procuro novo ocupante,
pode até ser misterioso,
mas precisa de ser pessoa,
pode ser em obras,
mas pessoa."
É esse o custo?
Bom dia e muito obrigado.
(fonte da imagem:
http://ostrapalhado.blogspot.com/)

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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

K

em azul

Ao fechares-me a porta,
invocaste a parede,
essa parede 
que se sobrepõe ao meu corpo, 
num gesto de agressão contida.
É noite,
a parede 
encosta-se ao meu peito,
os meus joelhos feridos,
lembram a minha meninice;
mas resisto,
convoco todas as forças,
as que tenho e as outras,
e há uma imensa agonia,
um trémulo suspiro,
enquanto bailam os meus olhos,
e as minhas mãos tecem artifícios,
sorrisos,
enquanto venero a limpidez,
o compasso livre, a vitória! 
(fonte da imagem:
www.santorini-greece.biz/)

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sábado, 1 de outubro de 2011

K

atento

Enquanto mergulhavas por este Outono dentro,
atentei um ocaso,
um adormecer de folhagem
que tudo aturdia,
resvalando pelo Inverno próximo,
num vórtice triunfante,
em quase-degelo,
prenúncio, já, de Primavera.

(fontes das imagens:

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domingo, 25 de setembro de 2011

K

(c)activo

Se não estivesse cativo,
preso nos enleios ardentes,
talvez caminhasse, solto,
talvez estivesse longe,
os cabelos flutuando nalgum Egeu,
entre sereias, talvez;
assim, cativo, preso, enredado,
não tenho como soltar a mente,
os pulsos, até;
até me pode chegar a maresia,
mas os pináculos apresam-me,
qual fera desleixada, 
esquecida na armadilha.


Se não estivesse cativo,
preso nos enleios ardentes,
talvez brincasse com as tuas mãos,
talvez mais perto de ti,
teus cabelos procurando o Egeu,
serias sereia, talvez;
só que assim com a mente nos punhos,
com a boca em esgar de trovão,
não tenho como te soltar;
quem sabe?, poderia chegar-me o teu aroma,
mas sabes?, não tenho como chegar-te,
sou um esquecido do tempo,
esquálida figura sombria.



Como estou cativo,
preso nos enleios ardentes,
apenas ergo as minhas mãos,
já esquecida a prece, 
ou o rodeio,
e aceno-te delirante,
na certeza das tuas mãos,
que,
brincando com as minhas,
trazem a madrugada,
o riso da liberdade,
do desprezo
por aquela que me subornou os sentidos!


(fonte da imagem:
http://integrallife.com/)

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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

K

velada

Vem,
meio escondido
entre as urzes,
pelos arbustos de anoitecer,
no canto malhado
que há na recôndita memória,
ai vem ele,
passos entre a folhagem,
o sorriso absorto
entre réstias de sol
dourando o esquecimento
de um Verão que calcou os dorsos;
fez a sua entrada 
em movimento discreto,
sempre entre 21 e 23,
sorrindo às marés,
às noites crescentes.
hOje, criei
um pequeno
trilho, um traço apenas,  
onde 
nasceu a 
hora contradançada que me inspira e leva

(fonte da imagem:
van Gogh: "Paisagem de Outono
com quatro árvores")

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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

K
filho do vento
Se bateres palmas,
já o meu juízo se terá ido,
e as planuras em que me debato
serão, para ti, escuros vales
em que assinas o teu destino.
Vogaste por entre as brisas,
os escolhos do tempo,
viste cacos da Terra
a que deste as boas-vindas,
sorriste ao Sol e à Lua,
perdeste as tuas presas
e ganhaste mãos que acariciam.
Hoje, no convés onde te abrigas,
observas o vento, outra vez,
e sorris,
pois sabes que,
mesmo sem juízo,
coloco em minhas mãos
o trilho do regresso...
(fonte da imagem:

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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

K

umas linhas

Caríssimo!
Tive hoje a tentação de te escrever num escrutínio cego e inconsequente. 
Daqui vislumbro o Tejo e a sua ondulação simula o meu bem-estar; não, não me sinto oscilante, antes preso, atracado. Mas de que te interessará o meu bem-estar? Deves viver embrenhado no teu próprio novelo, aquele que tens vindo a "tecer" laboriosamente, na busca do silêncio e do calafrio.
Lá fora a palavra "crise" escoa-se pelas frinchas de tempos cada vez mais de ontem. É um sopro irritante, lembra os "westerns" quando, para indicar uma cidade morta, se atiravam arbustos secos - pelos planos mais próximos - acompanhados de um silvo: é esse silvo, essa agudeza, esse gume faiscante que procura cindir cada cérebro, cada coração. E há quem se deixe embalar por estas torrentes da catástrofe!
Soube hoje que as nuvens do Norte dissipar-se-ão com um gesto ritmado, uma prosa solta de gana e garra. Só faltam as vozes, os ânimos. 
Vejo a tua cara, olhos miudinhos no excesso de compreensão e falta de coragem de sair de ti próprio. Deixa! Têm de ficar alguns para que outros vão.
Vejo também esse teu abraço na espera, na rosácea vaidade que me inunda.
Espero notícias tuas e do teu jardim secreto.
Aperto as tuas mãos com calor.
J.

(imagem do autor obtida com telemóvel:
"nuvens sobre Mortágua")

domingo, 4 de setembro de 2011

K
ORQUESTRA AO FIM DO DIA

o vento sussurra lá fora aquilo que me vai cá dentro...
enquanto caem as folhas, abato-me sobre o meu peito,
nem a brisa nem os meus olhos descansam, vagos,
rodopia a areia jacente no solo, o sorriso foge-me,
acho que há pequenos tornados e, abatido, observo
os cones baixos, insignificantes migas de Natureza,
e o céu quase solidário oferece os braços das nuvens
num desejo de ascensão salvífica,
num rodear de mastros antigos,
firmes num mar ansioso,
albergues esquecidos,
chiando lúgubres
num passado
já gasto
(foto do autor obtida com telemóvel, 
"nuvens sobre S. Martinho do Porto")

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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

K

ver(-te)

Ontem,
estavas numa hora
de dormência,
em pé,
espreguiçando-te
para as árvores.
Era visível um anel de cabelo,
resumindo-se até à franja.
Os teus dedos esticavam-se,
como se quisessem deixar-te.
A tua figura esguia,
arqueada,
era um instante,
um momento contido,
uma impressão de Degas,
talvez Renoir,
que,
em arco imóvel,
juntou o meu dia de ontem
ao de hoje
em que te revejo.

(fonte da imagem:

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domingo, 21 de agosto de 2011

K

poema fechado

(...)
era um tropel poeirento, cigano
que marcava as curvas solenes
os rastos mais vincados, arcos
de vis medalhas ostensivas na
sua altivez de quem está rindo
do futuro, na ânsia de triunfos
e insígnias de vitória. Oh, céus
de trôpegas, até inesquecíveis
batalhas, em que os recontros
eram trilhados pelos passos e
pelos gritos. Hoje, não há um
só trecho, um só restolhar das
nuvens que testemunharam do
céu-aço que tudo cobria. Essa
era a verdade que corrompia o
sonho dos virtuosos. Porém, o
engano já não campeava, nem
era já lembrado, a paz recobria
tudo e os aldeões caminhavam
cantando, fazendo o pão justo
(...)
(fonte da imagem:
http://aviemet.divitu.com/,
Salvador Dalí: "Céu hiperxiológico")

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terça-feira, 16 de agosto de 2011

K

cais

No cais,
os soluços da partida;
o navio era uma mancha
de sol pardo e de choro;
os que iam,
de braços férreos
moldados nos varandins,
já nem se algemavam a terra,
os olhos despojados;
os que iam ficando,
num adeus agreste,
cinzento também,
não viravam costas ao mar,
ao rio latejante...
















Caixões em branco feitos água,
uma espera segura de mortes,
presságio secreto 
que o vento transportou 
no regresso da manhã...

(fonte da imagem:
http://www.123rf.com/)

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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

K

hoje

Falaste-me, hoje,
do tempo das cerejas,
dos lampejos de sol,
gritando por entre as nuvens;
daquela luz,
inveja da aurora
e da brisa,
sopro divino entre os ramos.
Falaste-me das esperas,
do círculo feito pelas palavras
enquanto bailavam,
como insectos na luz;
encandeavam-se na certeza
de um poema,
soletrando marcas de água
baptizadas no santo lume.
Sim,
falaste-me do tempo das cerejas
e o céu voltou a lembrar-se
do quanto fora azul
no esforço,
e no descuido
da busca sôfrega do arco-íris

(fonte da imagem:

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sábado, 6 de agosto de 2011

K

longe

Folheio a Vida
e desfolho a Morte:
é um contratempo 
que desorienta a minha rota:
se o mar abraça a terra,
num júbilo de rendas brancas,
por que não irão estas duas,
qual alfa e ómega,
entrelaçar-se no perfeito infinito?
Como uma cobra
mordendo a própria cauda,
assim Vida e Morte,
num abraço glacial,
mas incandescente,
tornariam o princípio e o fim,
as faces de um mesmo cêntimo,
as virtudes de um só plano...


(fonte da imagem:
http://galeriasdearteemportugal.blogspot.com/)

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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

K

(caos)^0

É na Matemática,
na ciência incerta,
que forjo os meus dias.
Busco ostensivamente,
talvez,
as rectas que intersectarão
os meus planos mais arrebatados;
nas suas tábuas procuro
as exponenciais dos meus voos;
formulo equações
de espirais e buscas contínuas;
é no cálculo das probabilidades
que procuro as sortes que me escapam.
Senos e co-senos
definem humores quase impraticáveis.
Ainda há funções
de que me agrado 
e em que coloco as minhas variáveis.
E a minha vida desliza,
qual traneira,
em busca de uma onda,
em jeito de
parabolóide hiperbólico...

(imagem retirada da net:

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domingo, 31 de julho de 2011

K

afago

Quando afagas os teus dias,
diz-me,
ainda perdoas os teus caminhos,
ainda perdoas os teus actos,
ainda perdoas as vezes
em que o teu braço se levantou
na busca da vitória esquiva?
Ou estarás enlouquecida,
a boca paralisada,
no gesto da palavra
maldita,
lento declínio
por uma madrugada
oscilante?

(imagem do autor
obtida com telemóvel)

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domingo, 24 de julho de 2011

K

Hess

Quando Hess tomou a sua vida,
os mares sussurraram aos ventos,
as praias lembraram a Normandia,
e o tempo soluçou,
preso às memórias.

Quando Hess tomou a sua vida,
houve vagas de medos pálidos,
como se a loucura voltasse nua
e as marcas do silêncio
se rebelassem loucas.

Quando Hess tomou a sua vida,
ouvi gritos, lágrimas disfarçadas
pelas botas palmilhadas em rotas
esquecidas pelo juízo,
pela fria, dura História.
Quando Hess tomou a sua vida,
o esquecimento roçou a demência
e as almas aflitas aquietaram-se
na paz que se elevou,
curso doido das nuvens.

(fonte da imagem:

("Agora é a tua época,
a Urbe ainda te espera,
faz o teu trabalho por um tempo,
depois retira-te na tua frugalidade."
(Fala de Dioniso ao ditador
Quintus Cincinatus)

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quinta-feira, 21 de julho de 2011

K
CONTRALUZ

Vejo-te por entre as sombras do ocaso:
hoje, as brumas deixam sonhar-te;
ao longo da arriba, 
vão-se enrolando as águas e a terra
e o teu pescoço cinzelando as marés;
é neste bocado do dia em que me estendo,
(as mãos sob o queixo)
na espera daquele ápice
em que o céu, o oceano e tu
se fundem 
numa lágrima triunfante,
num suspiro ostentoso,
num compasso magnifico,
Zaratustra 
e Strauss 
e Nietzsche
empoleirados
na mesma clave,
na mesma calote.
 Em contraluz,
em silêncio:
o justo salário
de quem espera
num sorriso 
(mal contido)
as lantejoulas
e outros brilhantes...

(falsos)


(imagem retirada de:
http://marciavilarinhoebook.blogspot.com/)

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sábado, 16 de julho de 2011

K
AGORA

Agora é o tempo de fitar nos olhos
o caminho que percorri:
sugar os ventos,
as madrugadas,
os penhascos em que,
debruçado,
me despenhei,
no fragor de uma infância já perdida;
sim,
é o tempo de fitar nos olhos
os rochedos que me travaram:
a vista humedecida pelo pó
das caminhadas dos outros,
as paragens que os medos forçaram;
hoje,
foi esse tempo:
das navegações em águas rotas de esperança,
em que as velas não apontavam o porto,
e um céu prenhe de baixas pressões
desenhava arco-íris de risos inocentes,
confidências pálidas,
suaves, até,
de tempos, em cadência,
ainda por vir...

(Imagem retirada de 
www.abcgallery.com,
Salvador Dalí:
"Penya Segats,
mulher em frente de 
um penhasco")

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terça-feira, 12 de julho de 2011

K

ponto

É naquele instante,
no momento fixo,
nem antes nem depois,
no eixo da simetria improvável,
no acaso de um tiro na noite,
que o "flash" irrompe,
um véu pela madrugada fora:
os campos,
os telhados,
tudo reluz na vizinhança de um ponto,
o ponto breu.
Já nem se entalham os montes,
as veredas secam ao vento,
intratáveis,
as terras galgam o céu,
na busca do raio do círculo...

Hoje, como ontem,
o decote do horizonte
orla virtudes
nas réstias de todas as eras,
desvanecendo-as 
na simetria 
de um ponto
cego

(foto do autor 
obtida com telemóvel:
Curia, Anadia)

"Se caminhares em círculos,
 chegarás mais depressa,
pois os caminhos de um homem 
são igualmente assimétricos."
(Fala de Dioniso a Fernão de Magalhães,
na sua partida)

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terça-feira, 5 de julho de 2011

K
ANGRA

Regresso.
É na viagem que  me revejo,
no sonho da volta,
no reentrar no ancoradouro
das águas afáveis.
Já nem vejo a corda bamba,
o silêncio tornado juiz,
o refluxo distante;
guardo-me das palavras longas,
ditas na farsa acre do tempo;
hoje apenas quero afundar-me
na maresia cálida, acolhedora,
fluxo dorido das eras
em memória de si mesmas (...)
"Guarda as tuas palavras,
torna os teus gestos comedidos,
não vá
o destino enxergar-te
e lançar sobre ti o cárcere,
a infâmia."
(Fala de Dioniso a
Alexandre, o Grande)

(imagem do autor
obtida com telemóvel:
ocaso em S. Martinho
do Porto, 2010)

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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