terça-feira, 29 de dezembro de 2009

K

sucessão finita

nada digo:

o tempo assalta-me de pudor
e a minha voz, frágil chicote de vento, é ancoradouro das trevas.
(comentário de maré ao meu poema 'fugas')

arvora-se-me o tempo
pelo silêncio,
o gotejar da memória
corrói-me as têmporas;
liso é o resvalar dos murmúrios,
no soturno vazio
de cascatas,
feridas
na pudica sucessão das horas...

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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

K

apenas... Feliz Natal, Senhor Jesus!

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K

trilho


















No vago rosto da madrugada
precipitei o fosco riso
nascente,
roçando de alegria
o teu rir velado.
O Sol galgava
a manhã em trejeitos torpes,
quase se desculpando
pelos desencontros ocultos.
Sabíamos a mudez das noites,
dos ocasos que te agasalhavam
em xaile fofo, materno...
(...)
Ousaste novos trilhos;
sobra-me a certeza
da madrugada,
do Sol,
das noites,
dos meus ocasos...

(imagem retirada da net)

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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

K

caminho

a canção das águas
feriu os ouvidos
das manhãs pontiagudas;
sentiram o olhar,
penetrante até doer;
(...)
que caminho este 
tão longo,
tão adiado,
até ao esquecimento
da planície dos juncos sem-fim...

(inspirado num poema de marés
editado no seu blogue marés de espanto)





 
 
 
 
 
 
 
 

   (imagem retirada da net)

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domingo, 20 de dezembro de 2009

K

in memoriam...



a Sir Winston S. Churchill

(...)
murmura-me a garganta,
o soluço prostra-me
na quietude do caos;
soçobra o marejar:
líquidos os olhos,
postos no poente,
no anoitecer lasso,
nas colunas do partir.

Minhas mãos fecham-me
na portinhola escura
de um negrume
acercando-se
(...)

(imagem retirada da net)

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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

K

cálice











mergulho o cálice da loucura
nas preces erectas do abismo;
nada se perdeu,
apenas o restolhar manso da vaza  

(imagem retirada da net)

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terça-feira, 15 de dezembro de 2009

K

esperança














Um luto,
assim mesmo;
a tecitura, o branco,
e a claridade que desaloja já
as valas na fundura do estremecimento,
no entardecer das memórias, nas imagens soluçadas...

(inspirado em Graça Pires no seu
(imagem retirada da net)

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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

K
passeio em torno das imagens:
das metáforas,
das comparações;

há esculturas,
sobretudo ex-culturas
K

trem

passou a vida,
abandonei-a como a um trem,
procurei passos familiares,
boca que te nomeasse,
apenas o trem dava novas,
ao longe, no anoitecer;
fiz-me caminho,
travessa, atalho, rua;
era só o destino da disjunção,
da procura empatada;


(então,
em conluio,
em conspiração alla Sforzza
o tempo fechou-se,
em jeito de promessa,
de riso extraviado...)

(inspirado por moriana
no seu blogue)

(imagem retirada da net)

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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

K

fugas


Voltei-me na esquiva do vento:
talvez fosse o fragor,
o galgar das trevas.
Assim,
duas,
talvez três
palavras:
(sós)
caminho-poente-
[-fuga...]

(imagem retirada da net: "Fuga", V. Kandinsky)

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terça-feira, 24 de novembro de 2009

K

nortada

Pelo Norte,
as calotas,
entre frémitos de quietude,
na gulosa angústia dos sentidos,
sonhavam os hemisférios,
entreabertos num só corpo
caloso;
os caminhos estorvavam-se,
nas pederneiras ecoantes,
as vozes frígidas,
os suspiros em gotejos,
cintilavam no pensamento,
naquele Norte
esquecido das sibilas,
dos funâmbulos até,
onde o musgo
tão travesso até aí ,
cabisbaixava-se,
pedinte,
pela sua medra.
Lagos pétreos,
luas dissipando-se,
claras,
migravam o gesto,
o azul férreo,
do Grande Norte!

(imagem retirada da net)
(poema publicado simultaneamente no blogue GPS em que participo)

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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

K

encantos

Nos velhos altares pululavam deuses, tão sacros, decadentes,

tão decrépitos,
que se desvaneciam, já,
as suas vestes,
de maresia salpicadas.
Sacerdotes, trôpegos,
ainda oficiavam,
espalhando incenso,
salmodiando versos inaudíveis,
em línguas encantadas,
esquecidas,
fluidas,
mescladas de ontem.
Balbuciavam encantamentos,
encantos adentro
da flor do tempo
que ressaltava,
voraz,
no pó vetusto
que a cobria,
na secreta,
oculta noite média.











(imagem retirada da net)
(poema retirado do blogue
GPS em que participo)

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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

K

quando me revi,
em sonhos,
máculas fugidas
em passos ridentes,
já a minha imagem
se alegrara no tempo,
medida da sua fuga
ad aeternum...

o passado
destilara restos de areia
em vales sonantes,
quartzo fumado,
gotas funéreas;
já o plangor,
entre frestas
sobrara...

sabes?
tu não serás
a justa medida,
o bronze funéreo,
o ser;
estão-te guardados
estios e sóis de vento,
na inquietação doce
de um luar de Maio...

(inspirado em moriana)
(imagem retirada da net)

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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

K

pul(e)so

Quero que o meu pulso, o meu punho,
digite a letra,
a palavra perfeita,
o verso.


Quero que o meu pulso,
o meu punho,
gire a bandeira
do homem, da canção,
do riso.


Quero que o meu pulso,
o meu punho,
se abra em mão estendida
cálida,
em cálice de vida!


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terça-feira, 17 de novembro de 2009

K

escrevo










escrevo em jacto, num sopro;
esqueço a lima, a borracha
a correcção cuidada,
tudo sobra....
faria tanto
para ter a escrita limpa,
em dia,
linda!
(ou não)
e a simetria do esforço,
o estilo assoberbado
(e injusto)
leva-me as palavras,
o verso,
para longe dos meus dedos,
na distância áspera
de quem lê.

(imagem retirada da net)

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

K

chamas



vejo e revejo a lua
que sobra pelos dentes dos claustros;
os olhos mascaram-se de luz
e as sombras esquivam-se
à deriva nos mares da noite;
ouço as labaredas,
vejo-as
no sonho da minha pele;
...e o espanto
inunda toda a escrita,
no vaguear flutuante de ousados espectros.

(inspirado em marés no seu blogue
marés de espanto)
(imagem retirada da net)

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terça-feira, 10 de novembro de 2009

K
hesitei,
quando da espera
já nada se esperava,
os meus olhos entreabriram
o leve aspirar da demência...


(imagem retirada da net)

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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

K

(as)cese


Renunciaste ao tempo,
às dunas,
ao sol até.
Que será do teu caminho,
neste abandono ascético, 
quási
s
  i
   m
       é
         t
        r
      i
    c
 o
 ?

(inspirado num poema de Nilson Barcelli
publicado no seu blogue nimbypolis)
(imagem retirada da net)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

K

ignoro



não sei
quem me trancou os pulsos;
sonhei a liberdade,
as abas ralas da escrita,
na fusão líquida
da vacuidade dos,
enfim,
trancados pulsos;
não sei


K

cortadas

a beleza devora-me a alma,
vasculha-me a vida,
extrai-me a loucura,
e entredentes,
à socapa,
campeia os caminhos
de obscuridades,
tão perto dos passeios,
das almas titubeantes,
e da força da glória;
então regressa:
altiva,//dócil,//grácil,//viva...


(publicado por moriana no seu blogue
inspirado num poema de Eugénio de Andrade)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

K

viagens

As minhas viagens espraiam-se
pelos livros de sonhos;

caminho pelas páginas
estando quieto,
num sortilégio de remanso,
de esperança dormente...
enquanto tomo de aguilhão a vida,  
para que me arremesse 
para lugares-longe,
tão longe como a lembrança
de dias felizes...

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terça-feira, 13 de outubro de 2009

K

perder(-se)










Peregrino por livros de viagens,
perco-me nas suas estampas,
palavras,
coordenadas;
pois divago por caminhos que nunca serão
[os meus]

(imagem retirada da net)

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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

K

Hoje...

Hoje fui à bola:
não sei se foi ela que saltou
entre os postes,
se fui eu que saltou por ela
entre as hostes,
riscadas em traço vivo
por um pintor deslumbrado










pela pátria,
pelo sangue,
pela esperança,
pelas gentes...


(Que Portugal é este,
tão cheio de fé,
tão oco de tanto?)

(imagem retirada da net)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

K

*{abaladas}

Hoje vou chegar,
assim, sem mais nada.
Trago três risos,
dois abraços,
uma voz de espanto.
Ponho os pés na areia,
aterro na seda do parapeito,
páro o peito à porta,
meu coração não tine.
O caos é o mesmo,
e visto-me dele;
talvez traga comigo,
dois, três pós
de malva ou casta malvasia...
e o meu sorriso
pesque duas, três ébrias*...

(imagem retirada da net)

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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

K

/!















/abracei-me,/o vazio abraçou-me,/na ponta dos dedos/nem chego a abraçar/o abraço do leitoso,/ tranquilo entardecer

(imagem retirada da net)

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K

sextante/desnorte











(...)
as minhas mãos buscam
caminhos de névoas,
estáticos sextantes;
os meus dedos vogam
pelas cristas das marés,
espumas de rotas,
velhas atracagens
em pulsos quebrados,
lembranças de porões ocos;
palmas uníssonas
como se fossem viris,
os austeros sons (...)

(imagem retirada da net)

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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

K

agora,
deixa as águas paradas

beberem,
vadias,
 os restos do fogo;
reescreve a ânsia do silêncio:
talvez o teu prémio
esteja entre o desvario
e o outono em sóbrio crescendo...

(imagem retirada da net)
(inspirado num poema de marés
publicado no seu blogue marés de espanto)

domingo, 4 de outubro de 2009

K

cais

Queria que a timidez dos meus lábios
falasse a solidão das naus rangentes,
das partidas quase obscenas,
das águas já pastosas,
dos cais difusos...

(imagem retirada de
http://www.abcgallery.com/:
"Le quai de Havre",
Louis-Èugene Boudin)

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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

K
"Quando escrevo é como se meu corpo aquecesse"
(Carlos Drummond de Andrade)

Destilo palavras,
que calidamente
espreitam os meus poros.
Elas misturam-se
com as pérolas de suor,
com o que sinto
de mais grandioso,
ou abjecto.
O meu corpo aquece,
as falas,
até as sílabas, 
iluminam-no
em jeito de candelabros
{quase}.
Perlam-se os sinónimos,
os adjectivos,
frase abaixo;
apenas o meu pulso 
fiel ao que escrevo,
toma o verbo,
e espalha-o,
vibrante,
em câmara escura...
sonante,
numa vaga loucura
errante...












(imagem retirada da net)

[Este é o meu mote:


Pilriteiro que dás pilritos
por que não dás coisa boa?
Cada um dá o que pode
conforme a sua pessoa.


Aceitem, pois,
os meus modestos "pilritos"
que convosco vou partilhando...]

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terça-feira, 29 de setembro de 2009

K

geografias

Não sei se o caminho sou eu,
ou se é ele que me produz,
se as nuvens fazem desenhos,
se é o remorso que me seduz.

[Em vão atalho pelo caminho,
difuso, ignaro, 
que sempre me afronta;
em vão busco um silêncio,
uma agonia imperativa,
um espaço caiado,
um sepulcro
perdido nas lamas
imensas,
tão distantes...
e levemente relembro a geografia,
alva, baça e luzente,
daquele geógrafo que nunca serei...]

(inspirado em excertos
de um poema de Valerio Magrelli publicado por moriana)
(imagem retirada da net: "O geógrafo" de Vermeer)

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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

K

soneto do pé quebrado

sobrou o tempo da meninice,
das memórias a preto e branco,
do olhar claro, da meiguice,
do Alentejo seco, sempre campo

olho os retratos daquele tempo,
em jeito de sorriso mal disfarço
uma saudade vivaz, o desalento
de alguém chorando num abraço

sou feliz hoje, não o nego
a vida soçobra-me dos braços,
sinto a guerra ou o sossego,

mas logo vibra alto o meu ego,
ergue-se e logo ensaia os passos
de uma vida clara, sem nós cegos

(autoria Richard Abston em http://www.phot.net/)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

K

mirante

Passei o promontório
do medo,
cruzei os remos,
em jeito de espera;
dois olhos secos
como a dureza d'areia,
fixaram-me
como se o caudal das suas íris
me tornasse ainda mais pagão,
ainda mais gentio.
Suportei as miradas,
e remei,
remei sempre 
em navegação de doce agonia,
como se os meus caminhos
fossem verdugos,
ou
ásperas calçadas.
Depositei o meu olhar
na crueza daquele
tão nobre e frio;
logo,
arquejantes, 
se entranharam:
o meu feito vadio,
o outro vadiando livre...











(imagem retirada da net,
do filme "clockwork orange")

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terça-feira, 22 de setembro de 2009

K

tédio

o sopro de vida que me leva
pelo quotidiano assim demente,
traz-me, também, o néscio absurdo
de um enfado que se não sente













(imagem retirada de
http://www.abcgallery.com/:
"Ossificação prematura
de uma estação de comboio",
Salvador Dalí)

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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

K

um Outono...

Os soluços desfeitos,

a claridade possível,
o abandono,
o pesar
(o quase estado de graça)...
rasteiraram-me no quotidiano
solto,
augurando silêncios pardos;
sei que partiria descalço,
trajado nos rigores daquele Outono
descaído,
quási pobre;
o caminho das ondas
trouxe-me vaivéns de sal,
do tempo em que à janela
largávamos pinturas,
e risos e gestos
caídos nos solos de velhas guerras;
solto agora o meu tempo:
há duas, talvez três auroras,
infinitos ocasos
engendram palavras,
poemas (quem sabe?),
mas era a obscuridade
que, insidiosa,
se espalhava

{como urtigas por campos de linho dentro...}
(inspirado a partir de um poema de marés, publicado no seu blogue marés de espanto)
(imagem retirada da net)

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K

algoz
















Supremo algoz.
Autêntico, aquele sangue
debruado na sua gola.
Sussurrava-se uma velha fábula,
sobre um límpido,
casto senhor,
que perdera o querer,
por mor duma paixão,
uma paixão solta.
Hoje, florescia a ausência,
o nada.
Renascer assim um homem?
Nunca!
Singular criatura,
singulares mãos,
singular consciência a dele…
(deriva a vida à sua vista),
já nem sequer suspira…
Novo suplício ,
nova morte
embrulhada entre paredes.


(…)


E se houvesse um salsifré,
ainda mais escaganifobético
este poema se tornaria!...

(10º Jogo das Palavras in Eremitério, um excelente exercício e do qual se sente muita falta)
(imagem retirada da net, ilustração de Paulo Araújo)

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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

K

o beijo

Beijou-me cálida,
a Morte;
ensaiou seus passos
(doble),
entre sussurros de vento
e brisas acres
enfeitou meus lábios;
gemi a vida
que me susteve
entre dois pontos,
em arco de círcunferência,
numa abissal dissensão;
em jeito de mim
apontei-me algures
entre o Médio Império
e o Palácio do Filho do Sol;
almirantei-me na fuga desoladora,
plácida entre dois pilares;
não cheguei a chegar:
osculado estava,
meus caminhos
já estavam possuídos...
(imagem retirada de http://www.abcgallery.com/: "O beijo" de Picasso)

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terça-feira, 15 de setembro de 2009

K







Miro el calido reflejo de mi vida
tras cantarte canciones amargas
de ayer.
(anónimo, séc. XXI, encontrado
em ficheiros já esquecidos)
(imagem retirada da net)
K

poesia

Dou-te os passos da maresia, encontras os caminhos de agora
em algas circunscritas na direcção do teu olhar;
as águas sorriem aos teus trejeitos
de potra;
a Lua não te traz alentos
ou desesperos;
são brisas que resfolegam
peito acima
brotando pelos teus olhos
marejados de espanto;
já eras esposa, mãe,
amiga
abrigo, cabana,
lar,
tornas-te agora também
poesia.

(imagem retirada da net)

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domingo, 13 de setembro de 2009

K

inquietude

Caminhava na avenida
do esquecimento
prévio;
as canções haviam sido cantadas
pela exaustão da maresia.
Já não lembrava os solfejos,
os bemóis,
já não restava
um só(l) dó,
uma narrativa
impressa nas janelas
da inquietude
nas noites em claro
daquele secreto Inverno.
(imagem retirada da net)

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sábado, 12 de setembro de 2009

K

Sou de uma cidade

Sou de uma cidade plena,
e aberta à luz espraiada
que a beija, sorri e acena
e a encontra sempre estremunhada.

Sou de uma cidade à janela,
velha bisbilhoteira enrugada
que, sentando-se, se sente nela
abrindo-lhe os braços de madrugada.

Sou de uma cidade do sol
que a desperta sorrindo
e a quem se dá lento e mole.

Sou desta cidade que soa
a Ulisses e ao Pégaso que voa
que exclama sempre "Bem-vindo!",
sou desta cidade e chamo-lhe Lisboa!

(imagem retirada da net)
(em 29/08/1997 às 3H00)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

K
Os seus passos eram mudos
porque a sua alma se libertara,
[em silêncio]
(imagem retirada da net)

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K

urzes

Entro pelos caminhos da noite,
os uivos, os gritos, as vagas
não me ofendem;
escorre-me a solidão
por entre os dedos vadios,
os tornozelos vacilam
entre as urzes
empurradas por brisas
desconhecidas, medonhas.
O meu retiro é uma caverna
tão esquecida quanto eu,
onde se engalfinham pensamentos
de outrora,
tão altivos, tão soezes.
Já não sei o regresso,
ele também não me sabe.
Estes pedaços de terra,
amanhados pelo tempo,
recrutados pela aurora,
deslizam sussurantes
desvanecendo os clarões
dóceis,
da pura antemanhã.
(imagem retirada da net)

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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

K

(...)

O cão lambe as feridas?
Ou é já a morte, por via da chaga,
que beija o cachorro na boca?
(Mia Couto in "O último Voo do Flamingo")

As minhas mãos estendem-se, reverentes,
às mãos da morte,
meus lábios, já escuros,
abeiram-se do seu beijo.
(...)
Talvez seja o início duma ligação estável...


















(imagem retirada da net, gravura de 
Albrecht Dührer "O cavaleiro e a morte")

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terça-feira, 8 de setembro de 2009

K

a partir de...










(imagem retirada da net: nascer do Sol no Tejo,
autoria Rosário Soares)

tocar a noite

e o seu silêncio sacro

cognitivo dos instantes.

ser pérola

em mãos relâmpago

a florir os tumescidos seios da madrugada.

atingir o imponderável momento de ser luz.

(original de marés publicado no seu blogue marés de espanto)



Estico os dedos

e toco a noite;

ao longe, drapejam as velas

da luz que se escapa

pelos seios da madrugada;

já não há silêncio,

apenas nós

e as pérolas

da improvável,

singular alvorada.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

K

Caronte

Devia de ter deixado as mãos
cumprirem o seu destino:
uma e outra falando,
dizendo à morte
o nada da sua vinda.
Subi, pois,
ao poço da viagem,
entre dois mastros vazios,
dois remos sucumbindo;
zarpámos:
Caronte a esmo
sorria em vago tango
de aluguer,
a Lua fugira de soslaio,
o vento sereno e negro,
mergulhei, suave, a mão
nas águas apagadas,
no trecho de um fado
vadio
em voz de desalento
fugaz
(...)
(querem débil, o meu clamor...)














(imagem retirada da net)

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quinta-feira, 3 de setembro de 2009

K

ode

Pouco importa se teus caminhos se desviam,
em todo o tempo, dos meus;
pouco importa se queres iludir-te nas madrugadas
que são os meus ocasos,
pouco importa se crias os teus atalhos, firme,
sentindo o calor da sacrossanta vertigem;
abriga teus olhos da dor,
estica-te até o vento te calar
e que te não emudeça mais;
sorri,
sorri sempre
e deixa os cântaros da igualdade
jorrarem o seu deleite sobre a tua fronte;
terás então rasgadas ante ti
as avenidas perenes da liberdade!...

(imagem retirada da net)

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K

(...)

caminhei pelo colo da noite
ajeitando o laço da vida oculta,
só encontrei cristais informes
de dias cunhados pelo destino
(imagem retirada da net)

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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

K

excertos

Eu rio-me,
sorrio
dos velhos poetas,
eu adoro toda
a poesia escrita,
todo o orvalho,
lua, diamante, gota
de prata submergida
(...)

(Pablo Neruda, excerto de "O homem invisível")

... a poesia escrita leva-me ao eterno,
ao obscuro passado, presente de hoje,
aos risos cantados ao orvalho,
apáticos entre as luas da madrugada;
para onde caminhas, velho poeta,
que levas contigo o princípio da sabedoria?
A esmo palpitam tuas folhas rabiscadas;
e eu, manietado, escrevo com os olhos
nas estrelas fixas, algoritmos rasos de inocência...

(imagem retirada da net, "O descanso do poeta" de Marc Chagall)

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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